Não parando pra não pensar: por que fugimos do silêncio?
- Jackson Cividati
- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Você já percebeu como muitas pessoas — talvez até você — estão sempre ocupadas?Agenda cheia, várias séries para assistir, compromissos sem fim, celular sempre na mão…
À primeira vista, parece produtividade.Mas muitas vezes, é proteção.
Neste artigo, vamos falar sobre como a correria pode ser um escudo contra o desconforto, o papel do evitamento experiencial, e como lidar com o overthinking à luz da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
A correria como escudo
Parar pode ser desconfortável.Para muita gente, significa ter que lidar com pensamentos que preferem evitar.
Na TCC, isso é chamado de evitamento experiencial (Hayes, 1999; Leahy, 2006).Quanto mais tentamos fugir de emoções ou pensamentos, mais presos ficamos a eles.
O custo?Exaustão constante. Mesmo no descanso, a mente não relaxa.
O caso de Laura: fugindo do silêncio
Vamos imaginar a história de Laura, 32 anos, consultora de marketing.Sua rotina era uma maratona: reuniões, academia, faculdade, redes sociais, cafés com amigos, séries à noite.
Apesar de estar sempre ocupada, Laura dizia:
“Me sinto como se estivesse sempre fugindo de alguma coisa.”
Durante a terapia, percebeu que o desconforto não vinha do silêncio em si…mas do que surgia nele: pressão familiar, culpas passadas, dúvidas sobre o futuro.
Laura não tinha medo de parar.Tinha medo do que aparecia quando parava.
O paradoxo do controle
Robert Leahy chama esse fenômeno de paradoxo do controle:quanto mais você tenta controlar seus pensamentos, mais eles se intensificam.
A mente não se desliga sob pressão. Se você tenta silenciar à força, ela grita de volta.Se você permite, ela sussurra.
Leia mais sobre o paradoxo neste artigo.
Por que evitamos pensar?
Porque pensar dói.Olhar para dentro exige encarar frustrações, inseguranças e decisões adiadas.
Greenberger e Padesky (1995) destacam que pensamentos automáticos não vêm sozinhos:eles trazem emoções intensas, que parecem insuportáveis no momento.
Então, a mente corre.Mas correr não resolve: só adia.
Overthinking: quando pensar demais é o problema
Você já se pegou repetindo frases como:
“E se eu disse algo errado?”
“E se der errado?”
“E se me deixarem para trás?”
Isso é overthinking — pensar em excesso, de forma repetitiva, sem sair do lugar.
Na TCC, esse padrão está ligado à ruminação e à preocupação excessiva.São formas de fingir que temos controle, quando na verdade só alimentamos ansiedade.
Efeitos comuns do overthinking
Ansiedade elevada
Insônia ou sono fragmentado
Dificuldade de concentração
Irritabilidade
Cansaço mental constante
Uma verdadeira armadilha cognitiva.
Estratégias práticas da TCC para lidar com o overthinking
Aqui estão algumas ferramentas que podem ajudar:
1️⃣ Registrar os pensamentos
Anote o que passa pela sua mente, quando acontece e qual o nível de desconforto. Isso ajuda a identificar gatilhos.
2️⃣ Reestruturar cognitivamente
Questione seus pensamentos:
Quais evidências reais eu tenho?
Existem outras explicações possíveis?
3️⃣ Distanciamento metacognitivo
Observe seus pensamentos como eventos mentais, não como verdades.
4️⃣ Hora da preocupação
Reserve um momento específico do dia para revisitar os pensamentos — e apenas nele.
5️⃣ Práticas de mindfulness
Respire, observe, permita que os pensamentos passem sem reagir.
Essas estratégias são amplamente discutidas na TCC contemporânea e na ACT (Hayes et al., 1999; Beck, 2013).
O que pode ajudar no dia a dia
Crie momentos curtos de pausa intencional (2 minutos já bastam).
Anote os pensamentos que surgirem. Dar nome é o primeiro passo para desarmá-los.
Se for muito difícil fazer isso sozinho, considere buscar terapia.
Da próxima vez que sentir que está correndo demais, pergunte a si mesmo:👉 “Estou correndo para onde… ou de quê?”
Pensar pode doer.Mas não pensar pode custar ainda mais.
Que você encontre, hoje, um momento para simplesmente parar.Nem que seja só… para pensar.
Referências
Leahy, R. L. (2006). Como lidar com as preocupações. Porto Alegre: Artmed.
Greenberger, D., & Padesky, C. A. (1995). A mente vencendo o humor. Porto Alegre: Artmed.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and Commitment Therapy. New York: Guilford Press.
Beck, J. S. (2013). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed.



